Durante o ABCIS Summit, realizado na Feira Hospitalar, o painel “Perspectiva CEO – Tecnologia: afinal, custo ou investimento?” reuniu três CEOs de grandes instituições de saúde para discutir um tema cada vez mais debatido no setor: o investimento em tecnologia.
Felipe Monti, CEO do Hospital Infantil Sabará, abordou um dos principais dilemas enfrentados por instituições de saúde: como transformar tecnologia de um centro de custo em um motor estratégico de investimento. Para ele, essa transformação depende diretamente de dois fatores: maturidade digital e educação dos profissionais de saúde para operarem essa tecnologia.
Tecnologia só vira investimento quando transforma conhecimento em estratégia
Segundo Felipe, a diferença entre tecnologia como custo ou investimento está na capacidade da organização em transformar dados em informação, e informação em conhecimento aplicável. No passado, os sistemas serviam apenas para automatizar tarefas e reduzir custos pontuais, como cortar um posto de trabalho na recepção. “Isso pode representar economia, mas não necessariamente um ganho real para a instituição”, refletiu.
O salto acontece quando a tecnologia permite que decisões estratégicas sejam feitas com base em dados. Ele citou, por exemplo, o uso de ferramentas para entender perfis de pacientes, personalizar experiências e ampliar o alcance do hospital. “Quando uso um aplicativo amigável que permite ao paciente inserir seus próprios dados, ganho eficiência, melhoro a comunicação e personalizo o atendimento. Tudo isso é estratégia de mercado”, afirmou.
Leia mais sobre tecnologia na saúde na visão do CEO do Hcor.
Maturidade digital exige formação contínua
Para realizar um uso efetivo da tecnologia, segundo o CEO, não é preciso apenas do acesso a ferramenta, mas principalmente da formação dos profissionais que interagem com ela, desde o C-Level até o atendimento de base. “Um CEO que não entende o mínimo de inteligência artificial vai ficar para trás. Não se trata de programar, mas de saber fazer as perguntas certas e entender o que a ferramenta pode ou não responder”, alertou.
Ele defendeu que o conhecimento técnico deve vir acompanhado de pensamento crítico. “Assim como a internet mudou a forma como escrevemos e organizamos nosso raciocínio, a IA muda a forma como pensamos decisões. Precisamos desenvolver essa criticidade nos nossos cuidadores”, declarou.
Segurança da informação como valor estratégico
Outro ponto sensível abordado por ele foi a segurança da informação. Em um contexto de dados cada vez mais expostos e integrados, a perda de um prontuário ou vazamento de informações pode comprometer a reputação da instituição. “A cibersegurança deixou de ser responsabilidade apenas do TI. Ela subiu para o mapa estratégico porque está diretamente ligada à sustentabilidade e à confiança da organização”, pontuou.
Investimento exige visão de longo prazo
Ao final da palestra, Felipe Monti enfatizou que projetos tecnológicos estratégicos muitas vezes demandam planejamento plurianual, e não cabem em orçamentos apertados de curto prazo. “Quando o ganho é claro, vale acelerar e investir. Foi o que fizemos este ano com nosso projeto de governança de dados, ele entrou como prioridade no planejamento estratégico”, disse.
Mais do que ferramentas ou modismos, o CEO reforçou que o verdadeiro diferencial está na inteligência aplicada à tecnologia, o que só se alcança com cultura organizacional voltada para a inovação e aprendizado contínuo.
Leia também a perspectiva do CEO do Oswaldo Cruz sobre o assunto.
Leia mais de Juliana Santos